Amarra nº 1



Há dias eu podia sentir a ansiedade e a depressão em mim
queimavam meu corpo como se nele houvesse veneno.
Quando a alma é machucada, sua morada — o corpo — adoece também
Em crise, senti as dores de sempre — a nuca, a cabeça, os peitos
Peitos. Como dizer — no caos, no machismo, no conservadorismo — que há uma dor ali
em apenas mais uma parte (minha!) do corpo,
tão perto do coração, tão igual aos demais em sua anatomia, tão demonizada?
Mas são meus, e doem.
Doem por carregar a dor do mundo que a mente insiste em guardar
Doem por cada olhar e insinuação que receberam na rua, de algum homem estranho, sujo e assustador
Doem por ser proibidos, e por serem, dia após dia, censurados e escondidos atrás de um sutiã — e até este já foi sexualizado!
(esconda-os!)
(não provoque!)
(o que eles irão pensar?)
Mas são meus
e agora que as dores saíram da alma e afloraram na pele
eles serão livres
apenas porque são meus
Cada peça de roupa vestida
deixando a “menor burca” do mundo para trás
cada toque sem censura ou medo é um agradecimento
cada segundo de liberdade é uma afronta ao mundo

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