Você precisa se amar! Todos dias, em todos os momentos. Mesmo quando acordas deprimida ou de mau humor, ou quando você acha que nada parece ficar bem em você!
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Em algum momento da batalha pela autoestima feminina, as boas intenções se transformaram em pressão e a delicadeza virou imposição. "Você precisa se amar", por um descuido, passou a soar exigente: "você deve se amar, DEVE se amar!". Você verá nas redes sociais e nas revistas e na televisão que todas as mulheres parecem realmente se amar, e então - quando você acordar de mau humor, ou achar que nada parece ficar bem - você fará do fundo do poço sua morada temporária, por que todas as mulheres "devem se amar!" - foi o que te disseram repetidas vezes - e você não conseguiu essa façanha nesse dia.
E então você se sentirá duplamente horrível, e será engolida pela paranoia de que talvez você não seja tão empoderada assim, tão mulher, tão feminista, tão consciente. Vai lembrar das inúmeras vezes que repetiu - para si e para outras - que as mulheres devem sempre se sentir maravilhosas, e vai ponderar se sua existência até então não passou de uma mentira bem contada.
Um bad hair day ou um dia ruim se tornam uma crise existencial, uma nova fonte de insegurança - como se já não tivéssemos tantas outras para lidar.
A tentativa de desconstrução de um padrão abriu espaço para seu ressurgimento em novo formato: a beleza como prioridade. De um lado, a pressão que já conhecemos: a que tenta nos convencer de que só é possível ser reconhecida e aceita como "bela" se nos enquadrarmos em determinadas cores, tamanhos e formatos. Do outro, uma nova pressão: a de que devemos nos sentir belas e confiantes todos-os-dias, sem espaço para exceções.
A beleza, a beleza, a beleza. Tudo parece começar e terminar nela.
É tão necessário assim que nos dediquemos tanto à beleza?
O conceito de auto aceitação é lindíssimo e extremamente necessário. Entretanto, por vezes demonstra que basta um desvio de atenção para se tornar um monstro. Ele deixa de ser um caminho para a libertação quando esquecemos que "se reconhecer, se aceitar e se amar" são conquistas que não se aplicam apenas aos aspectos físicos. Amaremos as nossas aparências quando formos capazes de amar, em primeira instância, a nossa humanidade, porque o amor próprio não é apenas estético. Sem esse primeiro entendimento, o que temos ao alcance dos nossos olhos é apenas satisfação estética - facilmente derrubada com a chegada de um dia ruim. Ao trabalharmos o amor próprio em toda a sua totalidade - física e emocional - é possível dar a nossa auto estima a sólida base da qual ela precisa para entender - além de que somos humanas - que dias ruins não devem ruir tudo o que demoramos para conquistar, por que eles fazem parte da vida, e não há nada que se possa fazer quanto a isso.
Você pode ser uma mulher empoderada e ter dias ruins. Você não será menos feminista se dormir de cabelo molhado e odiar sua aparência no dia seguinte. Não será menos forte, ou menos interessante. A beleza é um conceito complexo demais, é preciso ter cuidado com ele.
Talvez hoje eu tenha simplesmente acordado mal e não consiga encarar meu reflexo no espelho nem que seja amarrada em sua frente. Talvez hoje eu não seja a fã número um do meu manequim, ou do meu rosto. Ou talvez eu apenas não esteja interessada em ser fisicamente deslumbrante e queira só que o dia passe rápido. E isso tudo não significa que eu definitivamente "não me amo", "não me acho bonita" ou não sou bonita, porque essas afirmações nem sequer podem ser definitivas. Situações corriqueiras não deveriam aniquilar tudo o que aprendi sobre "gostar de quem eu sou". É disso que devemos lembrar quando achamos que a única saída possível é permitir que a crise nos domine - que nos paralise em nossos quartos, que nos faça chorar ou que nos leve a sentir um pânico absurdo de conviver em sociedade nesses momentos.
Ao nascermos mulheres, a vida já pôs sobre nossas costas fardos demais. Não nos deixemos carregar mais um. A imposição de padrões de beleza podem causar estragos profundos em nossas vidas. Afundar e se perder na ilusão de que devemos nos sentir absolutamente bem todos os dias - tornar isso uma nova pressão - também.
Sempre pontual, como sempre. Esse texto merece ser impresso e colado na parede pra ser lido todos os dias!
ResponderExcluirEu fico muito feliz de ler isso e por ter ajudado! Obrigada :)
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