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Um registro aleatório da viagem a Montevideo |
Da janela do ônibus, vejo uma mulher carregar suas sacolas de mercado pela calçada.
Aparentava ter quase 40 anos e, para meu alívio, seu olhar era normal: não demonstrava medo da opinião pública, na mesma medida em que também não assumia nenhuma pose de distinção. Parecia estar apenas pensando no que fazer quando chegar em casa, talvez. Ou fazendo alguma conta mentalmente. Qualquer coisa normal que nunca figura nos pensamentos dos heróis pintados pelo cinema e pela literatura. Só isso. Uma humana.
Usava um all star preto, um short jeans e uma camiseta, solta e também preta. Estava de fones. Pouquíssima ou nenhuma maquiagem, e o cabelo com jeito de cabelo normal — que fica meio bagunçado no final do dia. Exatamente como eu, de 22 anos. Nesse momento, uma versão passada de mim mesma — de anos ou apenas dias atrás? — pareceu sentar no banco vago ao meu lado e fez a pergunta — e suas intermináveis variações — que sempre vai e sempre volta:
Esteticamente, você vai continuar sendo você aos 30 ou aos 40? Ou vai ter medo que te digam que você ainda se veste como nos seus 20? Vai ter medo que te julguem pelos seus gostos musicais e demais gostos, que provavelmente vão ser, além de outros novos, os mesmos de hoje? Vai entender que tudo isso forma o que você é e que misturar idade nisso é absurdo, tóxico e sem sentido?
Me encaro. Ela repete:
vai continuar sendo você?
Vou sim. Vou tentar.
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